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Brumadinho: Desastre ou Negligência?

No dia 25/01/2019 de forma terrível, brutal, assustadora e impactante vimos uma das represas de rejeitos da Vale romper levando tudo no seu caminho, soterrar e ceifar vidas, famílias, sonhos e histórias.

Neste artigo, resumo do desastre contei com o apoio da Vanessa Alves, uma ex-aluna de GTSI que se interessa pelo tema continuidade. Grato Vanessa!

  1. O que é uma barragem de rejeito de mineração?

Uma barragem de rejeito é uma estrutura de terra construída para armazenar resíduos de mineração, os quais são definidos como a fração estéril produzida pelo beneficiamento de minérios, em um processo mecânico e/ou químico que divide o mineral bruto em concentrado e rejeito. (fonte: Google)

brumadinho
(Fonte: https://mapio.net/pic/p-40637924/)

Uma barragem trata-se do final da produção de minério, um reservatório de solo pobre, arenoso e infértil, que ainda pode ter pequenos índices de contaminação por resíduos químicos. Ou seja, algo que já impacta bastante a natureza alagando áreas e mudando o ecossistema local.

Segundo Luiz Adorno, do UOL, “O Brasil é um país com 24 mil barragens registradas, que servem a diferentes propósitos. Desse total, 790 aparatos são de contenção de rejeitos de mineração, assim como a da mineradora Vale que rompeu em Brumadinho (MG) na última sexta-feira (25).”…”Analisando as barragens da mineração mais de perto, é possível dizer que 204 têm potencialidade de dano alto, seja ao meio ambiente ou para pessoas, caso haja algum acidente.”

2. GOVERNO 

Cadê o Plano de Continuidade de Negócios obrigatório dessas empresas, com seus respectivos controles mitigatórios, de monitoramento e os planos de gerenciamento de crises?

3. Informações técnicas para Plano de Continuidade

Cenário de Crise para Plano de Continuidade: Interrupção de atividades criticas por desmoronamento/ rompimento de barragem.

Liderança de Crise recomendada: Diretoria de Operações/ Beneficiamento

Porta voz recomendado: Presidente ou Porta Voz oficial

4. Resumo do DESASTRE NÃO NATURAL / FÍSICO / CAUSADO PELO HOMEM.

Barragem da mineradora Vale se rompeu na sexta-feira (25/01/2019), em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Um mar de lama destruiu casas da região do Córrego do Feijão. O rompimento ocorreu no início da tarde, na Mina Feijão. A Vale informou sobre o acidente à Secretaria do Estado de Meio-Ambiente às 13h37.Os rejeitos devastaram a área administrativa da mineradora, incluindo o refeitório, onde muitos trabalhadores almoçavam na hora do rompimento.

A Barragem I da Mina Córrego do Feijão tinha como finalidade a disposição de rejeitos provenientes da produção e ficava situada em Brumadinho (MG). A mesma estava inativa (não recebia rejeitos), não tinha a presença de lago e não existia nenhum outro tipo de atividade operacional em andamento.

A barragem foi construída em 1976, pela Ferteco Mineração (adquirida pela Vale em 27 de abril de 2001), pelo método de alteamento a montante. A altura da barragem era de 86 metros, o comprimento da crista de 720 metros. Os rejeitos dispostos ocupavam uma área de 249,5 mil m2 e o volume disposto era de 11,7 milhões de m3.

Fonte:https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/01/justica-bloqueia-r-1-bilhao-da-vale-apos-tragedia-em-brumadinho.shtml

Tragédia já vista– Em 2015, O rompimento da barragem de rejeitos da mineradora Samarco, causou uma enxurrada de lama que inundou várias casas no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, na Região Central de Minas Gerais, os dejetos oriundos da mineração de ferro arrasaram mais de 500 quilômetros da bacia do rio Doce, fazendo19 pessoas vítimas. Dessa vez o desastreatinge o Rio Paraopeba, um dos afluentes do rio São Francisco, foi contaminado pela lama.

De acordo com a Defesa Civil mineira, até o dia 21/03/2019, foram confirmadas 210 mortes, mas ainda há 96 desaparecidos. Além da tragédia humana, o rompimento da barragem gerou danos ambientais por conta da onda de rejeitos que alcançou o Rio Paraopeba.Depois de arrasar a área da Vale, a lama da mineradora atingiu comunidades de Brumadinho, destruindo casas, uma pousada e propriedades rurais.

Principais Acontecimentos 

25 de janeiro 

Ø  Rompimento da Barragem Córrego do Feijão

Ø  Parte de Brumadinho é evacuada sob risco de rompimento de outra barragem 

Ø  Presidente da Vale diz que danos humanos serão maiores do que em Mariana (MG)

26 de janeiro 

Ø  Vale é multada pelo Ibama em R$ 250 milhões, por danos ao meio ambiente decorrentes do rompimento de barragens da mina Córrego do Feijão.

27 de janeiro 

Ø Primeiros enterros de vítimas do rompimento da barragem de rejeitos da Vale. Até esta tarde, 37 mortes foram confirmadas e 287 pessoas estavam desaparecidas

ØJustiça já decretou bloqueios de R$ 11 bilhões de bens da mineradora Vale para compensar os estragos provocados pelo rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão

28 de janeiro 

Ø Vale despenca na bolsa e perde R$ 71 bilhões em valor de mercadoA ação da empresa caiu 24% neste pregão, em reação do mercado à tragédia em Brumadinho (MG).

Ø  Vale anuncia doação de R$ 100 mil para famílias de cada vítima de Brumadinho

Ø  já  passa de 60 o número de mortos e ainda há mais de 292 pessoas desaparecidas

29 de janeiro 

Ø Engenheiros e funcionários da Vale que atestaram segurança de barragem em Brumadinho são presos em MG e SP

Ø  Para prestar informações à imprensa, estão mobilizadas 60 pessoas, que somam os esforços de todos os seus profissionais internos de comunicação e a empresa recém-contratada para gestão de crise, a Inpress. A Vale conta ainda com o apoio das agências de publicidade Africa e Artplan, que já atendiam a conta da mineradora.

30 de janeiro 

Ø Acionistas minoritários entrou na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) com pedido de abertura de inquérito contra a Vale, denunciando a mineradora por não contabilizar em seus relatórios os riscos do seu negócio, omitindo em seus balanços o risco socioambiental de seus empreendimentos.

31 de janeiro 

Ø  O último balanço do corpo de bombeiros aponta 99 mortes confirmadas, sendo que 57 corpos já foram identificados. Há ainda 259 pessoas desaparecidas.

ØO desastre terá um efeito profundo na Vale, avaliou a agência de risco Moody’

01 de fevereiro

Ø  Vale esclarece sobre seu Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração (PAEBM), esseplano é construído com base em estudos técnicos de cenários hipotéticos para o caso de um rompimento. O PAEBM prevê qual será a mancha de inundação e também a zona de autossalvamento.

Ø  Vale disponibiliza assistência e auxílio funeral

04 de fevereiro

Ø  Ação Civil Pública determinou, dentre outras providências, que a empresa se abstenha de lançar rejeitos ou praticar qualquer atividade potencialmente capaz de aumentar os riscos das barragens Laranjeiras, Menezes II, Capitão do Mato, Dique B, Taquaras, Forquilha I, Forquilha II e Forquilha III.

05 de fevereiro

Ø Rio Paraopeba: terceira membrana para contenção de rejeitos começa a operar hoje

08 de fevereiro

Ø  Vale informa sobre contratação de painel de peritos, pelo escritório americano Skadden, para avaliar as causas técnicas do rompimento da barragem em Brumadinho

11 de fevereiro

Ø Vale inicia hoje registro para doação de R$ 50 mil e R$ 15 mil para atingidos em Zona de Autossalvamento( (ZAS) é a região à jusante da barragem, numa extensão de até 10 km, definida no Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração (PAEBM)).

15 de fevereiro

Ø  Vale informa sobre criação do Comitê Independente de Assessoramento Extraordinário de Segurança de Barragens. Comitê (“CIAESB”) criado para as questões relacionadas ao diagnóstico das condições de segurança, gestão e mitigação dos riscos relacionados às barragens de rejeitos de minério da Vale, bem como recomendar medidas a serem tomadas para reforçar as condições de segurança das mesmas

02 de março

Ø  Presidente da Vale é afastado do comando da empresa, oConselho de Administração da Valedecidiu afastar o presidente da empresa, Fabio Schvartsman, e mais três diretores.

15 de março

ØEm reconhecimento ao trabalho e heroísmo dos bombeiros militares em Brumadinho, a Vale formalizou um aporte de R$ 20 milhões para o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG).

Trabalho dos Bombeiros 

As buscas pelos desaparecidos já duram 56 dias. A operação já é considerada a maior busca realizada no estado. Na quinta-feira 21/03/2019, 150 militares trabalham no local com 103 máquinas e 5 cães. Um helicóptero e dois drones também participam das buscas.

Segundo o porta-voz dos bombeiros, tenente Pedro Aihara, algumas equipes têm trabalhado até as 23h porque em algumas áreas há iluminação, o que permite que as buscas sejam feitas à noite. Atualmente, os militares atuam em 20 pontos durante todo o expediente.

Cerca de 1,8 mil militares foram empenhados para as buscas, que também contam com auxílio de cães responsáveis por localizar cerca de 80% dos corpos ou restos mortais soterrados por milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério, informas responsáveis pelas buscas.

Os militares exploram a área de descarte, barragem B6, ITM, pátio Sotreq, estacionamento/portaria, armazém, Parque da Cachoeira até o Rio Paraopeba. Equipes farão buscas a pé margeando o Rio Paraopeba e outros militares participam da abertura do canal remanso 1 e reconstrução da ponte. Os bombeiros informam que haverá intensificação das buscas no pátio de locomotivas em duas frentes.

Plano de Continuidade de Negócio e Conclusões

É necessário que investimentos certos sejam feitos em estrutura, tecnologia, avaliação de riscos, auditorias, controle de qualidade.

Práticas de Gestão de Riscos como a Gestão da Continuidade de Negócios precisam existir, serem mantidas e melhoradas a cada ano. Uma Gestão de Riscos Globais e Integrada é recomendada, mas infelizmente as empresas líderes no Brasil não fomentam ou investem adequadamente nessas práticas. Os custos menores para margens em liquidez maiores, posteriormente serão afetados com uma brusca e demorada queda de valor de mercado, cancelamentos de contratos e processos decorrentes dessa paralização. Impactos de Imagem, Legais, Financeiros, Ambientais, Sócio-ambientais e operacionais que poderiam ter sido mapeados e contabilizados em uma Business Impact Analysis (BIA), preparando para minimizar-los, agora são reais e oferecerão os líderes de crise uma severidade e clamor publico que apimentará esse desafio. Para quem ainda acha que a Gestão de Crise é apenas um Plano de Comunicação em Crise, infelizmente este cenário lhes dará muito noção do que realmente é uma gestão de crises. Remediar durante a crise, ou improvisar é como brincar de roleta russa.

A Vale,em grande parte do processo de comunicação, reafirmou o envolvimento com a tragédia e lamentou o evento, neste momento é importante assumir as responsabilidades e tomar medidas para que o maior número de vidas possa ser salvo. A primeira preocupação e a mais prioritária existente no plano de continuidade de negócio é a proteção à vida.

A gestão do plano é um processo contínuo que deve acontecer periodicamente e para isso é preciso ter um conhecimento aprofundado de todo a rotina do negócio, entender todos os processos, as tecnologias envolvidas, caminho que cada processo percorre até gerar o seu resultado final.

Feito todo essa analise dos processos é possível apontar os riscos, mensurar qual o tipo de impacto que determinado processo pode trazer para a empresa no caso de interrupção e nos dá as informações necessárias para criar as estratégias. A implementação dos controles acontece para mitigar, diminuir nossas vulnerabilidades frente ao risco. Depois do plano criado é preciso exercitar, manter e revisar o plano de continuidade de negócio.

Um dos erros que a Vale cometeu foi contratar depois do incidente uma empresa especializada em crise a Inpress, essa preocupação deve ser constante não somente no momento em que se vive o incidente.

Não é inteligente e nem saudável poupar recursos e não criar um plano de gestão de continuidade do negócio e por fim ter que alocar recursos para reparar um desastre que podia ter sido evitado.

“O método conhecido como “alteamento a montante”, no qual a barreira de contenção recebe camadas do próprio material do rejeito da mineração, era usado pela mina Córrego do Feijão em Brumadinho e também pela mina do Fundão, também da Vale, em Mariana, onde houve rompimento da barragem há três anos.É a forma mais comum porque é mais barata para se construir e mais rápida de se licenciar porque ocupa menos espaço da bacia hidrográfica.  Mas é também a mais perigosa e com maior risco. Por isso países com características similares ao do Brasil não usam ou estão proibindo”, explica o geólogo Eduardo Marques, professor da UFV (Universidade Federal de Viçosa).

Por fim o término da crise não significa que os desafios acabaram. Uma mineradora do porte da Vale deve estar preparada para situações de crises emergenciais como essa, principalmente levando em consideração que já tiveram uma terrível experiência há poucos anos com o caso em Mariana. Afinal o impacto financeiro, legal e de imagem para a Vale são desastrosos, reconstruir a credibilidade não será uma tarefa simples para a empresa, aprender com os erros é uma necessidade vital para o negócio.

Post original no linkedin do Jeferson D’Addario, acesse clicando aqui.

Sobre Jeferson D'Addario - CBCP, MBCI, CRISC

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Consultor sênior há mais de vinte anos em TI, gestão de riscos e continuidade de negócios, ganhador do prêmio SECMASTER 2006 na categoria “Melhor Contribuição para o Desenvolvimento de Mercado”. Possui mais de 35 projetos de Continuidade de Negócios para empresas líderes no Brasil e Exterior nos últimos dez anos. Certificado como CBCP pelo DRII-USA, MBCI pelo BCI-UK, CRISC pela ISACA, ISO 27001 lead auditor (BSI). Formação em Economia e TI. Foi o responsável por trazer e desenvolver os primeiros cursos de continuidade de negócios oficiais do DRII – Disaster Recovery Institute International para o Brasil em 2005. Desde 2010 é instrutor oficial do DRII e representante executivo para o Brasil. É Membro da ISACA-SP, sendo colaborador na tradução do COBIT 4.1. Possui ampla experiência em Gestão de TIC (ITIL e ISO 20.000) e Govenança de TIC (COBIT, ISO 38500), tendo sido gerente e diretor de TI em empresas nacionais, e participado de projetos de implementação e certificação. Criador, coordenador e professor da Pós-graduação em GTSI - Gestão e Tecnologia em Segurança da Informação, curso DARYUS aplicado na Faculdade Impacta Tecnologia (FIT) – SP/SP, desde 2003, atualmente na turma 15. É sócio-diretor e fundador da DARYUS Consultoria e Treinamento, e atualmente CEO do Grupo DARYUS. Possui ampla experiência em gestão empresarial de negócios, pessoas, educação, gestão de crises, comunicação empresarial, relacionamento executivo e gestão financeira, apoiando executivos de grandes empresas no Brasil em projetos de consultoria. Palestrante, articulista e colaborador em eventos nacionais e internacionais relacionados a GRC, TI, Continuidade e Gestão Empresarial. Foi reconhecido pela Infragard – Califórnia em 2010 pela contribuição na área de segurança da informação para o Brasil. Já lecionou anteriormente para IPEN – Instituto de Pesquisas Nucleares – USP – SP e Instituto Trevisan – SP.

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